2005/03/24

Uso de vírgula (2)

Mito 1: "não existem regras para vírgulas." Ao contrário, existem regras claras, mas é verdade que em alguns casos o seu uso é opcional.


Regra 1: Uma frase que está na sua ordem natural (sujeito + verbo + complementos verbais etc) não precisa de vírgulas. Em particular, nunca há vírgula entre sujeito e verbo.

Exemplo:

"O rapaz que estava ao meu lado na sala de espera de Doutor João deu sua carteirinha de seguro de saúde e sua carteira de identidade à secretária a pedido dela e depois ele atendeu uma ligação por celular em voz tão alta que todas as pessoas presentes eram obrigadas a ouvir os detalhes mais íntimos da vida romântica dele."

Existe uma pausa natural depois da palavra “João”, mas não há vírgula neste caso.

Mito 2: "uma vírgula é necessária caso haja um pausa natural."

Regra 2: Se mudar a ordem natural da frase, uma vírgula é quase sempre necessário.

Exemplo: “Este trabalho é na minha opinião muito fraco.”
Ordem básica: “Este trabalho é muito fraco.”
Resultado: “Este trabalho é, na minha opinião, muito fraco.”

Obs 1: As vírgulas funcionam como parênteses; veja a seguir.
Obs 2: Quando a frase começa ou termina com “na minha opinião”, uma vírgula é necessária.
Obs 3: No caso de palavras como “porém”, “no entanto” etc. ou se coloca duas vírgulas, ou ninhuma.

Regra 3: Existe uma diferença entre “Brasileiros, que gostam de futebol, têm mais chances de ter um ataque cardíaco” e “Brasileiros que gostam de futebol têm mais chances de ter um ataque cardíaco”.

Na primeira frase as vírgulas funcionam como parênteses: “Brasileiros (que, aliás, gostam de futebol) têm mais chances de ter um ataque cardíaco”. O sujeito é “Brasileiros”. Na segunda frase a parte “que gostam de futebol” define e restringe o sujeito e portanto o sujeito é “Brasileiros que gostam de futebol.”

Regra 4: Usa-se vírgula para colocar palavras, termos ou idéias em uma seqüência.

Exemplo: “Ana, Liesbeth, Lissane, Tessa, Marina e Tiny são todas mulheres lindíssimas.”

Obs 1: Se as idéias precisam de vírgulas, é melhor usar o ponto-vírgula como separador, mas muitas vezes é melhor criar uma lista de itens.
Obs 2: Numa enumeração nunca há uma vírgula antes de “e”, mas usado como conjunção (e portanto substituível por “ou” ou “mas”) pode ter.


Regra 5: Não se usa vírgula entre duas frases quando não há uma ligação gramatical.

Exemplo: XXX "João voltou de Argentina, disse que estava muito frio lá." XXX

Isto é errado, porque não há nenhuma ligação gramatical entre estas duas afirmações; a ligação é logica. Nestes casos deve se usar duas frases separadas, com ponto:
"João voltou de Argentina. Disse que estava muito frio lá."
Também pode-se usar um ponto-vírgula em alguns destes casos, mas é mais seguro simplesmente usar um ponto.


Uso de vírgula (1)

(Dedico esta página a Jean Everson :-)

Avalio muitos textos, e vejo muitos erros de português. Pode parecer estranho um estrangeiro falando isto; eu cometo erros burros que nenhum brasileiro faria. Mas por outro lado, meu raciocínio gramatical é completamente diferente. Por exemplo, nunca vou confundir assento com acento, já que a primeira palavra é nova para mim enquanto a segunda existe em todas as outras línguas que conheço.

Vejo muitos erros com vírgulas, então acho que vale a pena falar um pouco sobre isto. O mais interessante é que em inglês é quase a mesma coisa. Uma vez comprei The punctuation Handbook, um livrinho de 40 páginas e que resolve todas as dúvidas. No ano passado achei um livro parecido em português: Só vírgula – Método fácil em vinte lições, por Maria Tereza de Queiroz Piacentini, EduFSCar, ISBN 857600014-8. Paguei 25 reais, eu acho, e recomendo este livro para todo mundo.

Na realidade o livro discute um pouco mais que apenas v’rgulas, e 20 lições é muita coisa. Tenho um outro livro de que gosto muito: Redação empresarial (2ª edição) por Miriam Gold, ISBN85-346-1215-3, que explica o básico sobre vírgulas em 3 páginas. Vou resumir o que ela fala:


http://jvdgraaf.blogspot.com/2005/03/uso-de-vrgula-2.html